Sketchbooks - Encontrando quem você é como artista

Arte de Nicolas Uribe

Uns meses atrás, fui procurado pelo pessoal do Plein Air Studio, para fazer uma parceria de divulgação da aula demo do artista Nicolas Uribe, que acontecerá no dia 26 de janeiro de 2019, aqui em São Paulo. Por sinal, vai ser um papo imperdível, como você vai perceber neste post, então clica aqui para saber mais e se inscrever!

Na época, para ser sincero, eu tinha ouvido falar do artista, visto alguns trabalhos maravilhoso como este ao lado, mas basicamente só conhecia seu recente projeto de sketchbooks no Kickstarter e sua conta do Instagram que estava cada vez mais famosa.

O que eu não sabia era o nível de profundidade das discussões que o artista levantava e os questionamentos que gerariam na minha cabeça.

Foi só depois de pesquisar bastante sobre ele e ouvir suas aulas e entrevistas que comecei a ter uma pequena janela para quem ele era e as ideias que ele defendia. A primeira delas, por mais irônico que possa parecer, exemplifica minha incompetência de extrair mais de suas pinturas do que somente imagens bonitas.

Nesta entrevista ao lado, Nicolas questiona que em nosso mundo moderno, acelerado e com extremo acesso a informação, ficamos acostumados a consumir de forma bem superficial uma peça de arte. Vemos se ela é bonita ou não, as cores, iluminação, temática e passamos para a próxima. Não nos permitimos mergulhar nas imagens, imaginar o que se passava na cabeça do artista na hora da pintura, sua relação com o tema, sua relação com as cores, sua mensagem a ser passada e o que ele estava aprendendo durante esse processo.

Pare para pensar um segundo. Quando foi a última vez que você se questionou estas coisas ao olhar uma peça de arte? Nós como artistas, principalmente, temos muito a aprender com cada oportunidade destas, não só do ponto de vista técnico, que normalmente tendemos a focar, mas principalmente da relação com o fazer artístico e a vida de artista. Neste outro vídeo ao lado, sobre estilo, Nicolas se aprofunda nesta questão e nos dá algumas dicas de como explorar as questões em nosso próprio processo.

Arte de Nicolas Uribe

Me questionando sobre este assunto, fui um pouco além no pensamento de que uma obra de arte finalizada normalmente possui um certo viés do ponto de vista de intenção. Como o artista sabe que aquilo será visto por alguém, muitas vezes pode de maneira consciente ou inconsciente direcionar a forma de executar, a temática, cores, etc, para gerar certo sentimento no seu público alvo. O mesmo, porém, não acontece com tanta frequência nos sketchbooks, especialmente aquelas páginas que não virarão mais um post no Instagram.

O sketchbook, em sua essência, é uma ferramenta para expressar a curiosidade, para a experimentação com aquilo que não conhecemos, para a expressão daquilo que sentimos com relação aos pequenos momentos a nossa volta, muito mais ligado ao processo do que aos resultados.

Essa foi uma grande análise que eu não fiz do trabalho de sketchbooks do Nicolas. Ali ele nos deixa bem claro quem ele é e sua relação com a pintura. Na entrevista do começo do post, ele verbaliza de forma ainda mais clara que elementos como sua mudança de volta de Nova York para Bogota foi importante no processo de desconstrução do ego e de descobrimento do que ele queria pintar e como queria viver.

Para ele, antes era motivo de questionamento pintar suas filhas, sua vida cotidiana, ele precisava dizer mais do que só aquilo. Depois, ele começou a perceber que era aquilo que ele queria, era aquilo que lhe fazia bem e que se ele corresse atrás e fizesse as mudanças necessárias, seria capaz de continuar sempre pintando. Está aí um outro grande aprendizado desse bate-papo, Nicolas se sente feliz e agradecido pela oportunidade de continuar pintando. Para ele, este é o objetivo, conseguir os meios necessários para não parar de pintar. Às vezes nos sentimentos tão pressionados por resultados, principalmente financeiros, que esquecemos um pouco da oportunidade que temos de fazer o que fazemos e estarmos gratos por isso. Não que dinheiro não seja importante, principalmente no mundo que vivemos, porém precisamos lembrar dos pequenos momentos, tão bem ilustrados por Nicolas.

Precisamos também mudar nossa relação com estes pedaços de papel encadernados e não sentir tanto medo ao riscar, especialmente quando eles ainda estão em branco. São oportunidades e não desafios, são experiências, aprendizados, descobertas e recordações que vão ficar. Faça como Iain McCaig sugere, neste vídeo ao lado, desenhe todos os dias em um caderno algo que você gosta ou se interessa, faça isso durante 6 meses e ganhe de presente um “retrato da sua alma”, ou seja, descubra o que você realmente gosta e parta daí.

Nicolas também tem um ponto muito forte sobre a questão da visão pessoal. Ao longo dos anos, ele aprendeu a aceitar que ninguém vai conseguir retratar as filhas dele como ele as retrata. Ele cita o pintor contemporâneo Jeremy Lipking, por exemplo, que tem uma técnica excepcional, mas o retrato dele de uma das filhas de Nicolas seria somente um retrato, sem toda a carga emocional envolvida. Precisamos aos poucos nos reconectarmos com essa carga emocional e também parar um pouco para analisa-la no trabalho de outras pessoas.

Sobre mostrar cadernos e/ou postar trabalhos, acho que vale separar o que é para você, o que é para quem pode genuinamente te ajudar a melhorar e o que é para o público geral, mesmo que isso tenha que ser fisicamente dividido, em cadernos diferentes. Todas essas coisas vão começar a se confundir com a prática, mas até isso acontecer, você certamente já estará mais consciente de quem você é, o que está fazendo e o resultado não impactará tanto o processo. Vale ressaltar o “tanto” da frase anterior, pois a insegurança com resultados faz parte do processo e nos acompanhará durante toda nossa vida.

Antes de continuarmos para as referências, gostaria de lembrar que teremos a oportunidade e o prazer de conhecer e assistir a uma aula do Nicolas Uribe aqui em São Paulo, no dia 26 de janeiro de 2019. Mais informações no link: http://www.pleinairstudio.com.br/calendario/workshop-nicolas-uribe/

Seguem então algumas outras referências e palavras sobre sketchbooks para você ver, analisar, absorver o que você se identificar e acrescentar na sua trajetória:

Jake Parker

Aaron Blaise

Série do THUTV - Karl Kopinski, Kim Jung Gi e Ruan Jia

James Jean

Scott Robertson e Neville Page

Chris Ayers

John Park

Darren Quach

Ahmed Aldoori

Sinix

Bobby Chiu

James Gurney

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Desenho/Pintura Realista - O que está faltando em seus trabalhos?

Desenho/Pintura Realista - O que está faltando em seus trabalhos?

Hoje vamos entrar em um assunto que possui diversos desdobramentos e discussões, o realismo. Muito se fala sobre o desenho e pintura realista hoje em dia, tanto com pontos de vista positivos quanto negativos. Para alguns, é uma busca pelo fotorealismo, para outros uma representação fiel do modelo, já os que são contra esta prática questionam a necessidade do realismo na expressividade e o quanto é somente uma técnica apurada.

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Alexandre Reider e a valorização do conceito sem ir em detrimento a técnica

Hoje tive o privilégio de participar de um Workshop com o mestre paisagista brasileiro Alexandre Reider na escola Pigmento Academia de Arte em Curitiba/PR. O Alexandre é de São Paulo e leciona no Plein Air Studio, juntamente com Charles Oak, George Mend e Marcus Claudio.

Segue um belo exemplo do trabalho dele:

No workshop, ele falou um pouco de seu processo e quebrou a arte representativa em 6 elementos estruturantes:

  • Conceito
  • Composição
  • Desenho
  • Valores
  • Cores
  • Técnica

Soa familiar? Citei alguns destes elementos no primeiro post do blog com referência ao livro Alla Prima do Richard Schmid, que o Alexandre também referenciou durante o workshop. Também podemos fazer um paralelo com os elementos da beleza na pintura representativa, de Maximov, como citei em outro post. Começa a ficar visível que existe um número finito de itens a serem estudados para atingirmos bons resultados.

Vejo uma distinção em dois grandes blocos, um conceitual (Conceito), onde estão questões mais profundas da busca artística e um bloco técnico/fundamental (Composição, Desenho, Valores, Cores e Técnica).

O Conceito, pela definição do Alexandre, é a "idéia que da origem a obra, o assunto e como ele será transmitido". Este é um tópico importantíssimo para lembrarmos que além de artistas querendo fazer belos desenhos, pinturas e esculturas, somos também contadores de histórias e geradores de emoções. Temos questões a serem resolvidas e discutidas dentro de cada obra. 

Ele propôs o exercício de reflexão do que estamos produzindo. O que diferencia nossa obra? Vale parar alguns minutos para avaliar quais questões quisemos resolver e que emoções conseguimos transmitir naquilo que já produzimos. E para os próximos trabalhos, pensar o que queremos fazer conceitualmente, que questões atacaremos, como um "briefing" em analogia feita pelo Alexandre com a arte voltada para a publicidade.

Porém, o próprio Alexandre frisou e vou reforçar aqui a importância de conhecimentos sólidos no segundo bloco. A arte moderna tem a tendência a supervalorizar a parte conceitual em detrimento dos fundamentos técnicos. Não vou discutir certo e errado, nem melhor ou pior, porém para a arte representativa, foco deste blog, fica clara a necessidade de desenvolvimento e aprendizado dos fundamentos artísticos. 

Para estes, estamos sentados em anos e anos de criação de conteúdo e com a internet temos acesso a praticamente todo ele. Precisamos sentar e estudar cada um dos elementos para evoluir artisticamente. Não que seja fácil, porém com uma estrutura organizada e os conteúdos certos podemos chegar lá, aos poucos, trabalho após trabalho, ano após ano. Este blog tem aos poucos tentado apresentar estratégias e bons conteúdos para "iluminar" um pouco mais este caminho.

Vou listar aqui alguns quotes que gostei muito do evento e minhas opiniões/comentários:

"Pintar é iluminar!" - ele também citou que um de seus conceitos é representar a luz como um personagem em suas pinturas. Tudo que vemos é através da luz e utilizá-la a nosso favor é muito importante no processo de pintura.
"Não há um bom pintor sem um bom desenho" - este comentário também está presente em boa parte da literatura sobre o tema, como no livro Alla Prima de Richard Schmid, dentre outros. Mesmo se não estivermos desenhando com linhas, as formas que colocamos no papel/tela/digital são desenhos e exercitar nossa percepção, leitura de espaços e coordenação/técnica manual só tende a acrescentar aos trabalhos.
"Você precisa começar a compreender tudo que você vê como elementos de composição." - este foi um dos pontos altos do evento para mim, mostrando que o que temos seja na nossa referência fotográfica seja no modelo ao vivo são elementos a serem integrados em nossa composição, não necessariamente da mesma forma, quantidade, detalhamento, cor e valor que estão apresentados, mas sim como irão acrescentar a pintura em si.

Ele também apresentou algumas referências bibliográficas e discutiu outras apresentadas pelos alunos do workshop, que vou listar aqui ou colocar links da Amazon quando possível:

Muito obrigado Alexandre pela aula e pela inspiração! É motivador acompanhar tanto tempo o trabalho deste mestre e depois descobrir que além de tudo ele transborda humildade e simpatia. Traços que parecem muito importantes na busca artística e estão presentes em muitos dos mestres que tive o prazer de conhecer pessoalmente.

Você também foi no evento? Ou já fez aula com o Reider? Comente o que achou.

Como sempre, críticas, comentários e sugestões são muito importantes para o crescimento do blog! Obrigado por acompanhar!