Desenho - Como você pode começar do zero de forma eficiente

Você gostaria de saber desenhar, mas não sabe nem por onde começar? Já tem uma idéia do que é desenhar, mas não sabe como melhorar? Neste post discutiremos os princípios básicos do aprendizado do desenho.

Arte de Karla Ortiz

Arte de Karla Ortiz

Aprender a desenhar, seja olhando para uma foto, uma pessoa, um local ou simplesmente criar algo da sua cabeça é um processo complexo. Além de todos os elementos que temos que dominar ainda lidamos com dificuldades como atacar o assustador "papel em branco" ou uma série de preconceitos e outras travas que criamos em nossa cabeça. Assim, acabamos muitas vezes desistindo até mesmo antes de começar.

Para quem acompanha o blog, deve ter percebido que gosto de desconstruir estes problemas complexos e tentar sugerir passos para sua resolução. Neste post, tentarei fazer o mesmo sugerindo o que considero serem os principais elementos do desenho e sugerir alguns livros e materiais que acredito cobrirem a maior parte do material necessário para um iniciante.

Mas o que é desenhar? Segundo o dicionário:

desenho
de.se.nho
sm (lat designu1 Arte de representar objetos por meio de linhas e sombras.2 Objeto desenhado. 3 Delineação dos contornos das figuras. 4 Delineamento ou traçado geral de um quadro. 5 Arquit Plano ou projeto de edifício etc. 6Desígnio. 7 Figura de ornatos, em tecidos, vasos etc.

Apesar de gostar dessas definições, acredito que desenhar é muito mais do que isso. Para mim, e para outros autores, aprender a desenhar primeiramente é aprender a ver. Enxergar além do que estamos acostumados a ver a nossa volta, observar detalhes que antes nem sabíamos que existiam. É aprender e tentar entender e replicar as relações entre todos os elementos da imagem.

Além disso, acho que aprender a desenhar também é aprender a aguçar a curiosidade, pesquisar e desconstruir aquilo que vemos e damos como "mundano". É investigar as estruturas do mundo em que vivemos e das coisas que nos cercam, seja em seus elementos físicos ou como nos impactam psicologicamente.

Arte de John Sweeney

Arte de John Sweeney

Por fim, acredito que aprender a desenhar é aprender a imaginar e sonhar no papel, como diria Iain McCaig. É visualizar o que nunca vimos antes, ordenar tudo que sabemos e reconstruir todos os elementos anteriores em criações originais, que dizem muito sobre nós mesmos.

Arte de Iain McCaig

Arte de Iain McCaig

Então, acho que desenho não é só a "arte de representar", mas sim a realização no papel de todo este aprendizado somado aos anseios, aos sonhos, as experiências, a frustração e a introspecção da jornada de cada artista.

Este texto será estruturado em quatro grandes tópicos, onde discutiremos brevemente cada tópicos e tentarei sugerir livros, cursos e outros materiais para aqueles que estão começando:

  • Ver
  • Desconstruir
  • Visualizar
  • Reconstruir

Ver

Vamos começar pelo primeiro elemento, aprender a VER, isto é, realmente observar profundamente o que estamos prestes a desenhar, entendendo relações entre todos os elementos da imagem. Este conceito se aplica muito ao desenho de observação, vulgarmente chamado de "copiar". Nesta parte do texto entenderemos que este processo pode ser simples como também extremamente complexo, dependendo do quanto você pretende se aprofundar, e como é base para tudo que falaremos na sequência.

O grande desafio ao desenhar de observação é ignorarmos, ou no mínimo questionarmos, tudo que achamos estar vendo e realmente nos concentrarmos no que estamos vendo. Analisar sem viés algum dos formatos (shapes) gerados por tudo que está na imagem ou objeto que estamos desenhando, tanto pelos objetos em si quanto pelos espaços vazios entre eles. Este é um conceito fundamental do desenho e é muito bem explicado no livro Desenhando com o lado direito do cérebro, da autora Betty Edwards, onde são chamados tecnicamente de espaços positivos e negativos. Seguem alguns exemplos do livro: 

Retirado do livro Desenhando com o Lado Direito do Cérebro

Retirado do livro Desenhando com o Lado Direito do Cérebro

Se considerarmos que a parte em branco como espaço positivo, isto é, o objeto na cena, então veremos um copo. Pelo contrário, se considerarmos as partes pretas como espaços positivos, teremos duas pessoas se encarando. Outro exemplo ilustrativo é o bode da figura abaixo, onde o que está em preto  na imagem da direita é espaço negativo:

A autora aborda outros temas muito interessantes ligados a teoria de que o cérebro humano pode ser dividido em duas "metades", onde o lado esquerdo representaria processos racionais, lógicos, analíticos, verbais e simbólicos, enquanto o lado direito representaria o lado perceptivo, intuitivo e espacial. Este é um material recomendadíssimo para quem está bem no começo e nunca teve contato com o desenho de observação. Segue o link da Amazon para o livro em inglês. Existe também uma versão em português, porém parece estar em falta em todos os fornecedores, de qualquer forma, clique aqui para acessar o livro na Livraria Cultura.

Reforçando este conceito de lado direito e esquerdo, vamos estudar o que diz o autor Harold Speed em seu livro The Practice & Science of Drawing. 

Quando desenhamos a partir de uma referência, principalmente antes de aprender este conceito, temos a tendência de acrescentar ao  papel símbolos pré concebidos, como por exemplo que a cabeça é redonda, ou olhos são redondos, o nariz é triangular, dentre outros.

O autor alega que temos a tendência a desenhar um retrato como a Figura A, abaixo, enquanto se fossemos desenhar o que estamos realmente olhando deveríamos chegar em resultados mais próximos ao apresentado na Figura B. 

Retirado do livro The Practice & Science of Drawing, de Harold Speed

Retirado do livro The Practice & Science of Drawing, de Harold Speed

Este é outro livro recomendadíssimo, porém de leitura um pouco mais densa. Pretendo estudar a fundo o conteúdo, assim como foi feito por James Gurney em sua série de posts GJ Book Club (em inglês). Seguem os links para quem se interessar em comprar:

O mesmo processo acontece com os famosos "bonecos de palito", símbolos que utilizamos para representar a figura humana, fugindo completamente do que estamos observando no dia a dia.

Voltando ao Desenhando com o Lado Direito do Cérebro, a autora então propõe uma série de exercícios para acessar o lado direito do cérebro, focando neste caso totalmente na análise da imagem de forma bidimensional. Ela ordena o aprendizado do desenho em etapas: Bordas, Espaços, Relações, Luz e Sombra e Gestalt.

No desenvolver dos capítulos, ela introduz alguns conceitos muito importantes como espaços positivos e negativos (que já citamos anteriormente), contorno externo e relações angulares e espaciais. Para ilustrar a importância dos conceitos, a autora apresenta alguns resultados de alunos de seus workshops de curta duração.

Retirada do livro Desenhando com o lado direito do cérebro, de Betty Edwards

Retirada do livro Desenhando com o lado direito do cérebro, de Betty Edwards

Tentarei no futuro fazer uma análise mais profunda deste livro também, mas garanto que se você estiver no começo e fizer os exercícios propostos, a compra vai valer muito a pena.

No final do livro a autora introduz os conceitos de desenho de memória e de imaginação, porém, na minha opinião a coisa começa a complicar um pouco por aí. Acredito que existe uma área de bastante incerteza quando se fala de criação através destas práticas de observação, também chamadas de pictóricas na literatura, mas este é assunto para outros posts. Neste, vou assumir que este processo pictórico se aplica somente a observação, que acabamos de discutir, e a visualização que cobriremos mais a frente.

Por fim, não considere este somente como um passo para os demais. É um dos pilares do desenho de imaginação, porém é uma prática complexa o suficiente para ser estudada separadamente. Como exemplos dos tópicos avançados estão a simplificação de formas, extração da essência visual e a abstração no lugar da descrição. Existem artistas que dedicam suas carreiras a esta prática, como o artista Maurício Takiguthi, com quem estudei em São Paulo. Se você tiver interesse em estudar o desenho pictórico ou simplesmente abrir a cabeça com relação ao desenho, recomendo muitíssimo o curso dele.

Arte de Maurício Takiguthi

Arte de Maurício Takiguthi

Arte de Maurício Takiguthi

Arte de Maurício Takiguthi

Arte de Maurício Takiguthi

Arte de Maurício Takiguthi

Desconstruir

Para dar início a discussão sobre criação, teremos que olhar primeiro para o contraponto do que vimos anteriormente, o chamado desenho linear, que usa o lado esquerdo do cérebro e se baseia na simplificação de todas as partes do desenho em formas geométricas simples e tridimensionais posicionadas no espaço.

O que quero dizer com essa frase complicada? Que para desenhar uma cabeça, você vai ter que simplificá-la inicialmente para uma esfera ou um cubo, irá posicioná-la no espaço, e depois irá começar a fazer as alterações de volume necessárias. Para tal, serão necessários também conhecimentos aplicados, como anatomia e perspectiva neste exemplo da cabeça.

Retirado do livro Successful Drawing de Andrew Loomis

Retirado do livro Successful Drawing de Andrew Loomis

Neste ponto existe o risco de voltarmos ao "boneco de palito", cometendo os mesmos erros de assumir o que não devíamos, então é importante que sejam adotados fatores adicionais, incluindo a própria observação de espaços e relações aprendidos com a Betty Edwards.

Em seu canal do Youtube, o professor e desenhista Stan Prokopenko postou um vídeo (em inglês), chamado Structure Basis - Making Things Look 3D, que introduz bem os conceitos de estrutura e formas simples.

O primeiro livro que vou sugerir neste tópico é o Successful Drawing, de Andrew Loomis, uma ferramente muito interessante para entender conceitos fundamentais do desenho linear, como habilidades manuais e com os materiais, perspectiva e iluminação (luz e sombra). Segue um vídeo com uma visão geral do conteúdo do livro:

Em seu livro, Loomis apresenta, já nos primeiros capítulos, dois conceitos estruturantes do desenho, que ele chama de "Os Cinco Ps" e o "Os Cinco Cs". 

Retirado do livro Successful Drawing de Andrew Loomis

Retirado do livro Successful Drawing de Andrew Loomis

Primeiramente vamos discutir os cincos Ps:

  • Proporção
  • Posicionamento
  • Perspectiva
  • Planos
  • Padrões

Andrew Loomis começa sua discussão investigando o que é um bom desenho. Primeiramente este tem que ter proporções corretas, isto é, as relações internas entre elementos, usando até conceitos de espaço negativo e positivo, tem que ser agradáveis ao olhar (mesmo que distorcidas da realidade como os desenhos cartoon).

Outro ponto importante é como os objetos estarão posicionados na cena, o que impacta diretamente em suas proporções, escala e composição bidimensional no espaço do papel. Para posicionar objetos da forma correta é necessário o uso dos conceitos de perspectiva.

Uma vez que tivermos todos os objetos posicionados, é a hora de iluminar a cena. Para tal, será necessário entender como os diferentes planos dos objetos serão incididos pelos raios de luz (em quais ângulos) e quase os valores  resultantes, isto é, se estarão na luz, meio-tom ou sombra, e quão escuros serão na escala de cinzas.

Por último, após o entendimento da luz e sombra, precisamos definir padrões de colocação dos valores para que estes trabalhem para auxiliar e não prejudicar a composição estabelecida pelo posicionamento. Este é o elemento mais complexo desta série e requer estudo mais aprofundado. Loomis sugere que o posicionamento se relaciona com a composição da cena em termos de linhas e os padrões em termos de valores.

Os cinco Cs são mais relacionados ao processo de execução de uma imagem:

  • Concepção
  • Construção
  • Contorno
  • Caracterização/Personalidade (Character)
  • Consistência

Quando queremos fazer um desenho, precisamos criar uma imagem mental em nossas mentes, mesmo no caso do desenho de observação, onde é muito importante tentar visualizar no papel o que se está pretendendo desenhar. Este processo será discutido mais a fundo na parte de Visualização deste texto, mas no caso do livro do Loomis é chamado de Concepção. Como veremos depois, este processo pode ter um caráter tanto bi quanto tridimensional.

O próximo passo é o mais importante desta parte do texto, utilizar conceitos tridimensionais para "construir" a imagem. Para isso, será necessário o uso das ferramentas dos cinco Ps, principalmente Proporção, Posicionamento e Perspectiva.

O ponto seguinte nos faz retornar um pouco ao universo pictórico, uma vez que o contorno é o que irá definir as relações entre espaços positivos e negativos e irá influenciar diretamente no fluxo e composição da imagem.

Os dois últimos pontos são muito importantes e merecem estudos profundos. Dar vida, isto é, caracterizar/dar personalidade a um desenho é um processo que requer muita experiência. Pequenas sutilezas podem mudar completamente o que está sendo comunicado por uma peça artística. Por fim, manter a consistência dentro de uma mesma imagem também requer muita prática, revisão e correções. Uma forma interessante é sempre procurar ver a peça com novos olhos, seja deixando-a descansar de um dia para o outro ou olhando através de um espelho ou modificando digitalmente.

No restante do livro ele se aprofunda em tópicos que sustentem estas estruturas, focando principalmente nos cinco Ps. Discutindo "a perspectiva que o artista precisa saber" e "luz em formas simples", Loomis cobre o que ele considera os conceitos fundamentais do desenho bem sucedido. Seguem alguns exemplos de páginas sobre perspectiva:

Para aqueles que quiserem se aprofundar no estudo da perspectiva e sua aplicação em veículos, cenários e objetos, deve procurar também o livro How to Draw, de Scott Robertson, para o qual fiz uma análise em outro post, acesse clicando aqui.

Recentemente, vi uma palestra com o mestre do desenho Kim Jung Gi onde ele falou um pouco de seu processo do desenho de memória e pude perceber que, ao contrário do que eu imaginava, ele pensa mais em métodos lineares do que pictóricos. Isto é, ele pensa em sólidos tridimensionais posicionados dentro de caixas, posicionando as caixas na perspectiva da imagem e posteriormente visualizando e reconstruindo seus personagens. É interessante ver a utilização direta de tudo que vimos nos cinco Ps e cinco Cs. Segue uma arte deste mestre e o vídeo da palestra:

Arte de Kim Jung Gi

Arte de Kim Jung Gi

Voltando ao Successful Drawing, do Andrew Loomis, existe uma parte inteira discutindo luz e sombra e suas implicações no desenho. Este é outro tópico complexo, que pode ter uma abordagem pictórica ou linear. Neste ponto, é importante frisar que quando me refiro a linear não me refiro somente ao desenho com linhas, mas sim ao pensamento racional para o desenho.

Para a Luz e Sombra, pensar linearmente ou racionalmente é entender a física por trás da luz e das formas e materiais dos objetos sendo iluminados. Por este motivo também quis discutir a perspectiva e posicionamento dos sólidos antes desta etapa. Saber a direção da luz e em que ângulo ela vai atingir as formas é essencial para representar fielmente tando o formato das sombras como sua intensidade.

Retiradas do livro Successful Drawing

Retiradas do livro Successful Drawing

O canal do Youtube do Proko também tem um vídeo interessante sobre este tópico:

Existem muitos materiais para o estudo da luz e suas propriedades, incluindo o livro e os DVDs de How to Render, do autor Scott Robertson e o livro Color & Light, de James Gurney.

Livros e DVDs

Para aqueles que tiverem interesse, seguem os links da Amazon dos livros que discutimos:

Successful Drawing
$27.86
By Andrew Loomis
Buy on Amazon

Cursos

Com relação a cursos, primeiramente gostaria de sugerir mais uma vez o Drawing Fundamentals do grande Carlos Luzzi, na ICS - Innovation Creative Space. Apesar de eu ainda não ter tido a oportunidade de cursá-lo, o conteúdo programático no site e os resultados alcançados pelos alunos tem atestado bastante a favor do curso, principalmente do ponto de vista do desenho linear. Seguem algumas imagens do professor:

Arte de Carlos Luzzi

Arte de Carlos Luzzi

Arte de Carlos Luzzi

Arte de Carlos Luzzi

Arte de Carlos Luzzi

Arte de Carlos Luzzi

Fora do Brasil, os cursos destes fundamentos costumam ser chamados de Visual Communications, Perspective ou Sketching. Uma das opções é  a FZD, escola do Feng Zhu, que discutimos em uma série de posts que você pode acessar clicando aqui. Seguem algumas imagens demonstrações da utilização dos conceitos em aulas da escola:

Arte da escola FZD

Arte da escola FZD

Arte da escola FZD

Arte da escola FZD

Na escola CGMA, existem dois cursos chamados Dynamic Sketching, com Peter Han. Os vídeos abaixo, de apresentação dos cursos, mostram como são extremamente focados nas habilidades manuais e conceitos lineares:

Seguem também algumas imagens de desenhos feitos por Peter Han utilizando estes conceitos.

Arte de Peter Han

Arte de Peter Han

Arte de Peter Han

Arte de Peter Han

Arte de Peter Han

Arte de Peter Han

É interessante perceber como os resultados tendem a ficar "parecidos" uma vez que estejam sendo aplicados os métodos de desconstrução. É um pouco do que discutimos no post sobre as diferenças entre ilustração e concept art/design, que você pode ler clicando aqui.

Esta foi somente uma introdução aos conceitos, existem muitos outros tópicos que devem ser estudados do ponto de vista linear e estrutural, cada um com suas peculiaridades e focos. Por exemplo, se sua intenção é desenhar a figura humana, existem inúmeros autores, incluindo o próprio Andrew Loomis, que discutem o tópico em profundidade. Seguem dois ótimos exemplos e você pode encontrar outros em nossa seção de Livros:

Visualizar e Reconstruir

Estes dois tópicos acredito que caminham juntos e portanto os discutiremos desta forma. O que entendo como visualização é o processo de criar uma imagem em sua mente, que será na sequência traduzido para o papel. Seria o processo de Concepção descrito por Loomis nos cinco Cs. 

Este processo somado a  sua tradução para o papel podem ser bidimensional ou tridimensional, ou até mesmo um pouco de ambos. A segunda etapa, que chamei de Reconstrução, tem a tendência a ser composta por elementos lineares, como eu tinha comentado no começo deste post. O desenho de memória pictórico vou deixar para outro post. Também pretendo fazer um post com a história da divisão linear/pictórico.

Para reforçar a escolha do desenho linear em processos criativos gostaria de usar um vídeo da série Design Cinema, feito por Feng Zhu para o canal do Youtube da FZD.

Além de apresentar o trabalho e evolução de alunos do curso de 1 ano da escola, que discutimos neste post, ele apresenta o conceito de desenho eficiente. Isto é, ele demonstra que a abordagem linear (tridimensional e estruturada), é muito mais eficiente em termos de criação e design do que a bidimensional. Quando você desenha algo de forma bidimensional, principalmente da sua imaginação, os resultados irão melhorando gradativamente até que no desenho número 50 vai começar a ficar bom. No desenho de número 100, você estará ainda melhor. Porém, se precisar mudar de tema ou objeto a ser desenhado, terá que começar novamente do zero.

A abordagem tridimensional, por outro lado, não desenha um tema ou objeto específico no começo, dando foco total aos fundamentos de perspectiva, luz e sombra, design e a desconstrução propriamente dita. Quando você tiver que desenhar um assunto específico, você fará uso deste conhecimento para reconstruir aquilo que imaginou em sua cabeça, mais uma vez o que chamo de visualização e reconstrução.

Como discutimos anteriormente, Kim Jung Gi também usa um processo semelhante em seus fantásticos painéis desenhados da imaginação, sem estrutura nenhuma no papel, somente em sua cabeça. É um poder de visualização impressionante, que poucos no mundo possuem, tanto no posicionamento de caixas em perspectiva em sua cabeça como o que estará dentro destas caixas. Assistindo ao video, tente imaginar as caixas que ele visualiza em perspectiva para posicionar os personagens. 

Outro exemplo da aplicação da estrutura tridimensional no desenho da figura é o processo do grande mestre Glen Vilppu. É possível notar nos vídeos de demonstrações que ele pensa em 3D a maior parte do tempo. Inicialmente ele bloca o gestual como se fosse uma estrutura metálica (armature), a qual ele compara aos processos de escultura. Depois, usa uma série de pontos da anatomia para guiar o posicionamento de volumes, sempre pensando em perspectiva e formas simples.

Em sequência vem a camada de anatomia, definindo volumes menores e dando um senso de realismo para a peça. Por último, é inserida iluminação na peça e suas correspondentes sombras e mudanças de planos e valores.

Em alguns momentos (como no final do vídeo da direita), Vilppu adota uma estratégia de começar o desenho com manchas de valor, sem linhas, o que para mim pode caracterizar como uma leitura bidimensional inicial, ou até mesmo pictórica do modelo ou do que foi visualizado em sua mente, para depois ser "arrumado" com os conhecimentos tridimensionais.

Este processo de manchas, que podemos chamar de Desenho por Abstração, também pode ser visualizado neste vídeo do artista J.P. Targete. O preenchimento com detalhes, ou reconstrução efetiva neste caso, parece ser uma mistura de linear e pictórico, pois Targete utiliza as manchas para tentar "ver" novos formatos (shapes) e elementos, o que seria um processo bidimensional, mas posiciona estes respeitando os volumes tridimensionais. O próprio processo de manchas pode também ser baseado num pensamento tridimensional.

Outros exemplos de artistas que utilizam este processo de abstração por manchas para tentar enxergar shapes e volume são: Ruan Jia, Kekai Kotaki, Eytan Zana, Justin Sweet, Levi Peterffy, James Zapata e Nathan Fowkes.

O desenho de imaginação é um processo que requer muita experiência, além do domínio de tudo que já vimos neste post e muitos outros tópicos específicos. Também é imprescindível o uso de referências, pois não somos obrigado a saber de cabeça tudo que vamos desenhar. Em seu livro Imaginative Realism, James Gurney deixa bem claro este uso de referências em seu processo.

Também é importante, até mesmo para adquirir essa experiência, experimentar e falhar muito! Para isso, não existe ferramenta melhor do que sketchbooks, onde você pode estudar e replicar aquilo a sua volta, combinar elementos, experimentar processos, esboçar idéias e depois começar tudo de novo! Seguem alguns desenhos de Wesley Burt, Karl Kopinski e Karla Ortiz para você se inspirar!

Arte de Wesley Burt

Arte de Wesley Burt

Arte de Wesley Burt

Arte de Wesley Burt

Arte de Karl Kopinski

Arte de Karl Kopinski

Arte de Karla Ortiz

Arte de Karla Ortiz

Livros e DVDs

Para aqueles que tiverem interesse, seguem os links da Amazon dos livros que discutimos e outras sugestões sobre o processo criativo:

Resumo

Desenhar é um processo complexo, porém existem alguns elementos principais que você pode atacar para melhorar a eficiência dos seus estudos e consequentemente atingir melhores  resultados:

  • Desenvolver a capacidade de observar de forma analítica o que vai ser desenhado, entendendo a relação entre os elementos visuais da imagem, sejam espaços positivos ou negativos, contornos, ângulos e valores.
  • Desconstruir de forma linear um desenho em todos os seus fundamentos, incluindo formas geométricas simples, perspectiva, luz e sombra, composição e elementos específicos como anatomia e caracterização/personalidade por exemplo.
  • Praticar o suficiente para permitir uma melhor visualização antes mesmo de começar a desenhar, seja de imaginação ou até mesmo de observação, planejando como o desenho ficará no papel.
  • Utilizar todos estes processos para criar um desenho de imaginação, reconstruindo o que foi imaginado em sua cabeça para o papel. Para isso, pratique muito, experimente e erre. Ter um sketchbook sempre a mão é essencial!
  • Divirta-se! Este processo é para ser divertido e não desgastante! Foque no processo, nos fundamentos e na experimentação que os resultados virão com o tempo!

Exemplos de artistas cujo processo tende mais para a construção: Feng Zhu, Scott Robertson, Andrew Loomis, John Park

Exemplos de artistas que usam uma mistura de abstrações, pensamento em formas simplificadas e construção: Robert Liberace, Burne Hogarth, George Bridgman

Outros exemplos de artistas que utilizam este processo de abstração por manchas para tentar enxergar shapes e volume são: Ruan JiaKekai KotakiEytan ZanaJustin SweetLevi PeterffyJames Zapata e Nathan Fowkes.

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Veja também a continuação deste post, com sugestões de técnicas, materiais e exercícios, clicando aqui.

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