Retrospectiva Creative Juice Expo - Mais do que uma comunidade, uma verdadeira família!
/Nos dias 29 e 30 de agosto, Curitiba recebeu um evento que acredito poder ser o começo de uma nova era para o mercado artístico brasileiro, o Creative Juice Expo. Anthony Jones, Dan Luvisi e Mike Azevedo foram os palestrantes desta edição, mas acredito que não foram a única atração do fim de semana. Saiba mais sobre cada um deles neste post anterior sobre o evento, ou especificamente sobre o Mike também neste post sobre sua arte e links e neste outro post onde conversamos com ele sobre sua evolução artística. Veja abaixo o vídeo oficial do evento:
Na minha opinião, cada um dos mais de 70 participantes contribuiu para que a união dos artistas e o sentimento de camaradagem fossem as grandes estrelas. Segue uma foto com alguns dos participantes (infelizmente não estavam todos presentes nesse momento), onde já da pra ver um pouco a alegria no olhar de cada um:
Não estou dizendo que as palestras não foram boas, pelo contrário, foram fantásticas também, mas o que ficou mais forte para mim é que estamos todos no mesmo barco, não importa o nível de nosso trabalho e que estamos dispostos a caminhar juntos.
Vou separar então a retrospectiva em dois grandes blocos:
- Evento: onde farei uma revisão do que aconteceu e o que foi dito de mais importante durante as palestras, perguntas e revisões de portfólio
- Comunidade: onde tentarei traduzir em palavras o que senti durante o fim de semana com tanta gente fantástica
Evento
Anthony Jones
O evento começou oficialmente na tarde de sábado, com a palestra de Anthony Jones. Foi uma conversa muito interessante sobre sua história e sobre motivação. Ele frisou muito a dificuldade que todos passamos para chegar em algum lugar com nossa arte, e que isso é normal!
Uma frase que achei sensacional foi que o importante
"não é como pintar, mas sim como continuar pintando".
Não existe fórmula mágica, é muita persistência, experimentação e repetição, com uma sólida base teórica, claro! Para ele, "talento de verdade é ser teimoso"!
Mas o que nos impede de continuar estudando? Ele sugeriu alguns dos principais problemas que enfrentamos, sendo que o primeiro deles é a procrastinação, simplesmente não começar. E por que o fazemos? Por "falta de tempo", "distrações", "muitas opções", etc. Para tal, ele sugere se forçar a estudar pelo menos pouco tempo todo dia. É interessante e não pensamos nisso, mas 2h por dia, todo dia, são mais de 700h de estudo por ano. Enquanto você está enrolando, poderia já estar acumulando estas horas.
Outro ponto importante que ele citou foi o foco. Existem artistas que são bons em muitas coisas, mas você tem que começar por alguma coisa. Discutimos isso no post do ICONIC, com algumas colocações interessantes dos artistas Rael Lyra e André Forni, clique aqui para ver mais.
A falta de motivação também é um grande desafio em nossa jornada. Achar uma resposta para esta questão é o que nos fará vencer a barreira da procrastinação todos os dias. Para ele, nossos principais inimigos neste caso são o medo de falhar, foco nos resultados e ansiedade.
Interessante como ele pensa para não ficar ansioso com seus resultado, "Está horrível, mas tudo bem, vou melhorar!". Ele tinha e tem plena convicção de que estar ruim em algo é um estado momentâneo e que irá mudar com o tempo e prática, muita prática. Um desenho não fará diferença, simplesmente passe para o próximo!
Por fim, ele falou da falta de apoio e educação, seja pelos pais e parentes não o apoiarem, faltarem escolas na sua região ou não existir uma comunidade de artistas. Com relação ao apoio dos parentes e amigos, ele sugere provar que existe uma oportunidade, com casos de sucesso e carreiras sólidas, estou buscando escrever um post sobre isso. Por enquanto, a própria história do AJ é um grande exemplo, ele cresceu de encanador para um dos concept artists mais respeitados do mercado, tendo trabalhado nas melhores empresas, como Blizzard Entertainment, e vive atualmente de seus próprios projetos e carreira de educador. O que quero dizer é que não faltam caminhos e a cada dia mais estão sendo criados. Segue o primeiro projeto dele publicado através de financiamento pelo Kickstarter:
Com relação ao segundo ponto, conteúdo e educação, tenho mostrado aqui no blog que não é mais um problema, pois hoje em dia pela internet temos acesso a todo tipo de materiais. O que nos falta realmente é organização, entender o quanto temos que estudar e começar a faze-lo.
Eu tinha dúvidas quanto a comunidade de artistas, principalmente aqui no Brasil, porém depois desse evento o que nos falta é uma forma eficiente de organizar pessoas e não se elas existem ou não, mas falarei sobre isso mais abaixo.
Ele então sugeriu algumas soluções para estes problemas. Primeiro perspectiva, e não é aquela de um, dois e três pontos de fuga não, apesar dessa também ser importante. Para ele, temos que ser otimistas com relação ao mercado e a seus caminhos, porém sem perder o ceticismo. Não podemos ser sonhadores demais, porém a experiência tem mostrado que existem inúmeras formas de ser bem sucedido. Na versão americana do Creative Juice Expo, isso fica muito claro, tendo cada participante seguido um caminho diferente, porém todos com extrema dedicação e persistência. Clicando na imagem abaixo ou aqui você pode baixar gratuitamente os audios e pdfs das palestras.
Isto também é visíveis em inúmeras das entrevistas e podcasts que sugerimos em outro post, que você encontra clicando aqui. Está em dúvida, vá ouvi-los!
Para melhorar a motivação e produtividade nos estudos, AJ sugeriu organizar seus estudos como um jogo, mapeando as etapas que devem ser cumpridas, quais as metas e objetivos e quantificar seu processo, não "perdendo tempo". Um exemplo que ele apresentou é o estudo de design ao invés de focar em fazer muitos rostos por exemplo, você sempre terá mais referências de rostos para tirar suas dúvidas do que de designs inovadores. Você pode até fazer um photobash (utilizar a foto dentro da pintura) depois para sustentar seu design. Não quer dizer estudar um em detrimento do outro, é mais uma questão de foco.
Outro exemplo interessante, agora de quantificação, foi estudar 20 minutos de um tópico e depois por 5 minutos se testar sobre o que aprendeu, sempre com um timer ou alguma forma de marcar o tempo. O timer é muito importante para manter o foco e não deixa-lo parar enquanto o tempo nao terminar. É mais ou menos como a técnica Pomodoro, que o Henrique Lira explicou bem no vídeo do ICONIC, porém mudando o foco de estudo para teste.
Ele resumiu então a palestra em tópicos:
- Clareza nas intenções, planos e metas
- Paciência para seguir sempre estudando
- Confiança de que se você estudar, divulgar seu trabalho e conhecer pessoas, em algum momento as coisas começarão a dar certo
- Seja realista, porém otimista
- Talento é conquistado, não dado
Em sequência, AJ fez três demonstrações usando um timer e sua sugestão de 20 minutos de estudos para cada uma.
Ouça mais de Anthony Jones no The Collective Podcast (em inglês) e em outro podcasts que sugerimos no post de entrevistas, citado anteriormente, clique aqui para conferir. Você também pode conferir muito conteúdo dele em seu canal do Youtube, Gumroad e Livestream.
Mike Azevedo
O segundo palestrante, na manhã de domingo, foi o Mike Azevedo. Ele contou primeiramente um pouco de sua história, da qual já falamos neste outro post. Depois, Mike deu uma aula fantástica sobre teoria de cores e como ele gosta de tratá-la dentro da ferramenta Photoshop. Neste ponto foi interessante ver como ele mistura os conceitos técnicos de luz, reflexão, refração e absorção, com conceito fundamentais da pintura tradicional, para ter uma abordagem mais completa, controlada, racional e direcionada dentro da ferramenta digital. Muito do que ele falou você encontra em seu Gumroad sobre cores que você encontra clicando aqui ou na imagem abaixo.
Por fim, Mike fez uma demo muito interessante demonstrando na prática sua abordagem de cores, layers e blending modes (ferramenta do Photoshop).
Dan Luvisi
Por último, tivemos uma aula de superação com Dan Luvisi, onde ele contou toda sua história, trajetória e dificuldades para conceber, desenvolver e comercializar seu projeto pessoal LMS: Last Man Standing. Para se ter uma idéia, ele desenvolveu sozinho o primeiro livro com esta história, com quase 300 páginas, onde ele fez todas as ilustrações, diagramação e arte final. Na sequência, procurou diversos estúdios até receber uma proposta da Paramount para que a história seja transformada em filme. Ele também possui muitas outras idéias e produtos a serem vinculados ao universo que criou.
Ficou claro na palestra que para realizar algo desta magnitude, teremos que estar dispostos a abrir mão de muitas coisas, mas no caso dele, também ficou bem claro que valeu a pena até agora. É bonito de ver a paixão com a qual ele fala do projeto para as outras pessoas, e isso ficou visível no evento em momentos como este da foto abaixo.
Segue o link do primeiro livro para aqueles que tiverem interesse em conhecer mais:
Dan também fez duas demonstrações para terminar sua palestra, ilustrando sua versão do Homer, dos Simpsons, e o personagem principal do LMS, Gabriel.
Ouça mais de Dan Luvisi em suas entrevistas para o The Collective Podcast:
Foram horas intensas de aprendizado, motivação e reflexão sobre como estamos levando nossas carreiras até o momento, o que devemos mudar e qual será nosso foco.
Avaliação de Portfólio
Outro ponto alto do evento foram as avaliações de portfólio, onde todos os participantes puderam receber críticas, sugestões e conselhos de um dos palestrantes. No final do segundo dia, foi possível que alguns participantes entrassem na fila novamente para ter seu portfólio analisado por outro palestrante. Foi muito interessante e pude participar de perto de algumas revisões como "tradutor" ou ouvinte mesmo, pois os palestrantes permitiram que ficassemos ao redor ouvindo os comentários, como você pode ver na foto abaixo
Durante as avaliações que acompanhei, o AJ repetiu uma sugestão que acredito ser muito importante para os artistas em geral e especialmente os brasileiros, foco na narrativa e design! Muitas vezes acabamos nos focando tanto nas técnicas de pintura e fundamentos, que deixamos de lado o que estamos querendo dizer com aquela imagem. Falamos um pouco mais disso também no post do ICONIC sobre voz interior, acesse clicando aqui.
Outro ponto importante que ele levantou é que muitas vezes pintamos pensando como artistas para artistas, então estamos preocupados com as pinceladas, bordas, sugestão, shapes, porém esquecemos que existe um público enorme de não artistas que poucas vezes irá entender o que estávamos buscando. Ele cita um exemplo da arte de Sparth abaixo, que para muitos leigos pode parecer incompleta, apesar de para nós artistas ser fantástica. Você deve conhecer o público com quem está comunicando, os milhões de internautas que gerarão compartilhamentos para seu trabalho. Sabemos que isso não é tudo na arte, porém para a construção de uma carreira, principalmente sem ser em um grande estúdio, é importante você ter seguidores e quanto mais gente ver seu trabalho mais chance dos reais seguidores aparecerem.
Comunidade
O evento oficial pode ter começado no sábado, mas sexta-feira quem já estava em Curitiba começou a se reunir e se conhecer. Depois de 2 dias e meio de palestras, conversas, feedbacks, análises de portfólios, festas oficiais e algumas cervejas, todos pareciam fazer parte da mesma família. A família de artistas brasileiros, carentes por mais, mais acesso aos melhores do mundo, mais lugares para trabalhar, mais reconhecimento e mais união entre todos nós.
Durante todo o evento, os palestrantes pregaram que "somos todos iguais" e isso ficou muito claro depois deste convívio, principalmente nos eventos oficiais. Artistas de todos os níveis compartilhavam suas conquistas, frustrações, dificuldades e superações. Foi bonito de ver, todos se ajudando, dando opiniões sinceras, sabendo ouvir críticas. Os palestrantes mesmo foram sempre muito abertos, principalmente durante as festas pós evento no sábado e domingo, compartilhando experiências, fazendo críticas e desenhando nos cadernos dos participantes quando possível.
Por falar em desenhar, fiquei pasmo o quanto alguns dos nossos compatriotas desenham, sempre acompanhados de seus sketchbooks para onde fossem. Artistas como Cesar Rosolino e Rodrigo Idalino, que já fizeram uma participação no blog neste outro post sobre design, assim como Hugo Richard e Filipe Pagliuso, assim como outros que tive menos contato, não pararam de desenhar durante todo o evento. Trocaram sketchs, sugestões e elogios, muito importante essa união e sinceridade. Os palestrante Mike Azevedo e Dan Luvisi também estavam constantemente desenhando, seja em seus próprios sketchbooks ou no de algum dos participantes.
Outra coisa que me espantou foi a qualidade dos artistas presentes. Era de se esperar pelo quanto eles estudam, mas mesmo assim quando você vê os portfólios você fica impressionado, descobrindo pessoas que nunca antes tinha visto e que tem um trabalho fenomenal, para mim foi o caso do Vinicius Menezes, que eu não conhecia e você pode perceber nesta imagem abaixo o quão bom ele é.
Mas não importava em que estágio da caminhada cada um estava, eramos todos iniciantes e cientes de que será uma jornada interminável. Ao mesmo tempo, eramos e somos todos apaixonados pelo que fazemos e por essa busca. Isso é muito importante, é deixar o ego de lado por uma questão muito maior. Claro que cada um tem suas aspirações e pode ficar até um pouco intimidado com tantos trabalhos bons, mas foi um sentimento tão forte de união e de compartilhamento que acredito que superou qualquer tipo de frustração.
A única coisa que me frustrou e deixou até um pouco desanimado é a quantidade de potencial inexplorado devido a falta de um mercado de entretenimento consolidado no Brasil. Você vê que o sentimento da maioria é de ir para fora, não necessariamente por não gostar daqui, mas é pela falta de opção. Só que ir para fora esbarra em uma série de dificuldades que não tem relação com seu desenvolvimento artístico necessariamente, como vistos, reconhecimento e um pouco de sorte também, de encontrar a empresa disposta a lutar por você no processo de imigração por exemplo.
Acredito porém que as perspectivas sejam positivas. Como AJ falou, temos que ser céticos otimistas. Os custos de publicar e distribuir projetos pessoais tem caído cada vez mais, sendo assim o trabalho dos brasileiros tem ganhado cada vez notoriedade internacional. È visível movimentos como o Henrique Lira do ICONIC fez, trazendo seu projeto da Nickelodeon internacional para ser produzido no Brasil. Estamos engatinhando, mas só essa garra que demonstramos durante o evento pode mudar esse cenário.
Parabéns ao Lucas Parolin, artista brasileiro que ajudou AJ e John Ribera em toda a organização do evento, e a todos os demais que ajudaram a tornar tão incrível este fim de semana.
Temos que manter a chama acesa e encontrar novas oportunidades de nos encontrarmos e fortalecermos ainda mais essa união e sinceridade. Acho que se teve um ponto que se sobressaiu no evento todo foi esse, sinceridade, seja dos organizadores, palestrantes, participantes ou entusiastas.
Que continuemos assim, loucos pelo que fazemos, apaixonados pelo que somos e unidos como uma família! Obrigado a cada um que participou do Creative Juice Expo Brasil! Nos vemos em breve!
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