Melhorando sua Arte através do Olhar Crítico (parte 2/2)
/Neste post, darei continuidade a análise do vídeo do artista e educador Scott Robertson sobre o desenvolvimento do olhar crítico, tanto na educação formal universitária quanto no estudo auto didata e/ou em cursos livres. Segue o vídeo para quem não assistiu:
No primeiro post, que sugiro que você leia antes clicando aqui, apresentei uma análise e tradução para o método formal de educação, onde um grupo de indivíduos com mentes e objetivos semelhantes se reúne para aprender e praticar sob tutoria de experientes instrutores, sendo cobrados e criticados em um grande número de projetos extraclasse.
Ele também desconstrói uma disciplina padrão em quatro processos:
- Aula expositiva
- Projetos e tarefas extraclasse
- Apresentação dos projetos e tarefas para a turma
- Crítica e avaliação dos trabalhos pelos instrutores
Usaremos esta estrutura para dar continuidade à análise, agora focada em replicar este processo para fora dos muros das grandes universidades.
Com relação ao primeiro elemento, as aulas expositivas ou conteúdo, Scott diz ser fácil replicar com o acesso a materiais que temos através da internet. Ele cita a escola Schoolism, a Gnomon, a Gnomon Workshop, os diversos canais do Youtube, dentre outros.
Principalmente agora que a Schoolism irá cobrar menos de 20 dólares por mês na assinatura, não existe motivo para não aprender.
Hoje em dia, temos ainda acesso direto ao processo de muitos dos melhores artistas da indústria do entretenimento, através da plataforma Gumroad e similares.
O conteúdo também pode ser aprendido e desenvolvido através da leitura, seja de revistas, publicações técnicas ou livros educativos, como alguns citados por ele no vídeo, que linkarei com a Amazon.com e/ou Amazon.com.br abaixo:
Estes são só alguns exemplos de livros muito bons que você pode comprar, neste blog mesmo já sugeri alguns e ainda vou sugerir muitos outros. Como ele mesmo diz, você tem acesso a todos os livros texto utilizados nas disciplinas de uma universidade como o Art Center, então você pode sim aprender todo o conteúdo ensinado lá por conta própria. Na página do projeto existe uma aba de livros, onde colocarei algumas sugestões interessantes. Também é possível encontrar fontes como a lista de links do grupo do facebook 2MindsLab, que você pode conferir clicando aqui. Se não conseguir acesso direto é só pedir autorização para entrar no grupo.
A grande questão está em replicar o grupo de indivíduos com mentes semelhantes, a cobrança, apresentação do trabalho e as críticas de qualidade, obtidas também pelo contato com os experientes instrutores.
A melhor aposta para isto são as comunidades online, diz ele, como Conceptart.org, CrimsonDaggers, dentre outras. Estas comunidades já foram mais ativas no passado, hoje em dia alguns grupos de facebook tem cumprido o papel de juntar pessoas para discutir arte e criticar trabalhos, porém acredito que a dinâmica seja diferente. Faz parte dessa série de posts investigar essa questão. Alguns exemplos nacionais são os grupos BrasilART, ICSart, 2MindsLab e Bate-papo Ilustrado.
Mas o problema está na qualidade da crítica, diz ele, que se não for de alta qualidade pode levar a criação de hábitos ruins ou colocá-lo na direção errada. Você deve então qualificar as críticas, quem as está dando, quais são suas qualificações para tal e se você deve confiar nelas.
Mas como encontrar críticas de qualidade fora da estrutura educacional tradicional?
"Provavelmente quem pode te dar críticas de qualidade, que é qualificado para tal, provavelmente está ocupado trabalhando! Então é muito difícil conseguir que artistas como eu, ou outros professores do Art Center tirem um tempo para te dar uma crítica de qualidade"
Um bom lugar para você encontrar estes artistas dispostos a fazer avaliações de portfolios são feiras e eventos ao vivo como a Comic Con ou Spectrum Live.
Existem também diversos cursos livres, online como os da própria Schoolism, CGMA, dentre outras, ou locais, como os da ICS. Nestes você tem contato direto com professores e terá críticas no seu trabalho referentes ao conteúdo que está sendo ensinado.
As críticas mais simples, principalmente aquelas relacionadas a fundamentos artísticos onde o certo e errado é baseado na física, são mais fáceis de encontrar. Porém as questões avançadas de estilo e expressão pessoal devem ser tomadas com cautela.
"Mas sempre é importante ouvir, absorver e refletir sobre as críticas, lembrando que não críticas direcionadas a você pessoalmente e sim com relação ao trabalho profissional que você publicou para ser criticado."
"Leva tempo, seja paciente!"
Melhorar seu olhar crítico é melhorar sua capacidade de corrigir seus trabalhos e cometer menos erros, atingindo resultados cada vez melhores e mais rápido. É a essência do desenvolvimento artístico do ponto de vista técnico.
Vamos resumir então os tópicos discutidos e tentar relacioná-los com a situação nacional:
- Aulas/Conteúdo: conhecimentos/ferramentas necessários para elaborar seus trabalhos, inclui desenho, pintura, luz, cores, design, dentre outros.
- Projetos/Prática: constante e de preferência juntamente com um grupo de mentes e objetivos semelhantes aos seus.
- Apresentação: importante parte do processo, onde é necessário verbalizar o processo de desenvolvimento, a intenção inicial e as qualidades e resultados obtidos.
- Crítica: de qualidade, do contrário pode gerar vícios e hábitos ruins, prejudicando sua evolução e a qualidade de seu trabalho.
No Brasil, a questão é bem complexa. Praticamente não existe uma estrutura universitária brasileira do ponto de vista de entretenimento, principalmente por que praticamente não existe um mercado de produção de entretenimento por aqui, salvas algumas produtoras de animação e de jogos que lutam para sobreviver. Sendo assim, não temos cursos específicos como ilustração, design de entretenimento e arte para jogos na graduação.
Os cursos que são mais próximos da área criativa, como o Design Gráfico e o Design de Games, tendem a ter visões bem generalistas e conceituais, não se aprofundando muito na prática. Mesmo naquelas disciplinas que chegam próximas do que seria interessante para nossa área, como desenho de observação e similares, a necessidade de mestrado e/ou doutorado por parte dos professores diminui drasticamente a qualidade técnica dos mesmos. É muito difícil um profissional de qualidade, atuante no mercado, se focar de 2 a 4 anos para ter estes títulos, ainda mais que os tópicos discutidos em dissertações e teses são muitas vezes de caráter conceitual.
Podemos dizer então que, principalmente na arte representativa, o Brasil ainda depende muito da estrutura de cursos livres e ateliês, não possuindo grandes centros de discussão destes tópicos.
A Melies, conceituada escola de cursos livres de São Paulo, recentemente se tornou uma faculdade, oferecendo um curso tecnólogo de produção audiovisual, cuja matriz curricular (que você pode conferir clicando aqui) parece mais voltada para a técnica, apesar de sua curta duração. É muito cedo para dizer que isso pode ser uma tendência, vamos esperar e torcer para ver o que vai acontecer.
Sendo assim, a parte da evolução do olhar crítico na estrutura formal não acredito poder ser replicada por aqui, pelo menos não na situação atual. O que tentarei fazer em alguns posts que estão por vir do blog é discutir o desenvolvimento artístico durante os cursos que temos por aqui, como Design Gráfico e Design de Games, aproveitando o que é possível e complementando com material externo. Para isso, vou tentar conversar com alguns casos de sucesso voltados para a ilustração e concept art.
Voltando então para os cursos livres, existem alguns que tentam suprir a demanda por instrução de qualidade, principalmente (e infelizmente quase exclusivamente) na cidade de São Paulo, onde se concentra a maior demanda por estes cursos. Escolas como a ICS e Melies, citadas anteriormente, Quanta Academia e Axis, além de ateliês como Plein Air Studio, Maurício Takiguthi, Gonzalo Carcamo e Cícero D´Avila, fazem da cidade a melhor opção para quem quer evoluir artisticamente em cursos presenciais. Não fui exaustivo nesta lista, só citei alguns dos exemplos que podem ser encontrados por lá.
Mas existem outros casos de trabalho muito sério sendo realizado fora e São Paulo, como da escola Art&Cia em Fortaleza, que, além de oferecer cursos fantásticos na grade regular, todos os anos trás para o Brasil alguns dos maiores nomes da indústria no mundo para palestrar na capital cearense, esta lista já incluiu Jordu Schell, Glenn Vilppu, David Kassan, Serge Birault e agora em agosto trará Tyson Murphy, artista de personagens da Blizzard. O ateliê do mestre da escultura Alex Oliver também fica em lá.
Existe também um aumento do número de eventos e feiras com a temática do entretenimento no Brasil, tanto de origem nacional quanto internacional. Das organizações nacionais quero incluir, como exemplos, a CCXP - Comic Con Experience, que está em seu segundo ano e replica o modelo internacional de uma ala inteira com artistas, além de promover a cultura do entretenimento, e também o evento de ilustração, animação e concept art ICONIC, para o qual já fiz um post específico que você pode ver clicando aqui.
Também é visível o movimento do mercado internacional se interessando mais pelo Brasil. Em 2013, aconteceu o evento ao vivo da Schoolism, em Florianópolis, com a presença de Bobby Chiu e Nathan Fowkes. Este ano teremos a vinda de Anthony Jones e Dan Luvisi, no final de agosto, para trazer o evento Creative Juice Expo para Curitiba. O artista brasileiro Mike Azevedo que já apresentamos aqui no blog também estará presente. Farei um post específico sobre a antecipação para o evento e estarei lá em agosto.
Conseguimos através de todos estes, aos poucos, suprir um pouco da carência de contato com instrutores e profissionais de qualidade, porém os eventos e cursos são muito esporádicos e consequentemente a frequência de interações dos brasileiros com profissionais atuantes no mercado é muito pequena.
Com relação ao acesso a livros, vídeos e cursos online, dependemos ainda muito da compreensão do inglês, principal idioma de publicação dos materiais. Existe tradução de alguns materiais de qualidade, como livros do Andrew Loomis, e cursos online nacionais, porém se você realmente quer se envolver com esta área sugiro fortemente aprender inglês.
Com relação a formação de grupos de estudo, prática constante e as críticas de qualidade, acho que o mais próximo que temos atualmente são as comunidades online e offline sendo formadas por todo o Brasil. Existem inúmeros casos de pessoas que se juntam para estudar, se cobrar, criticar os trabalhos uns dos outros e trazer novos conteúdos para o grupo. Também existem casos de brasileiros, como o Mike Azevedo, que participaram muito tempo de fóruns internacionais, evoluindo diariamente junto com os outros membros da comunidade. Farei outro post discutindo sua trajetória.
Estou longe de ter respostas para estas questões, mas vou buscar através deste blog estudar o problema e tentar sugerir formas de melhorar a situação nacional. Apesar de achar também que precisamos de mudanças de cunho cultural e/ou da sociedade atual, na forma como nos cobramos, nos criticamos e nos dedicamos. Existe muita gente hoje querendo uma resposta fácil para o crescimento artístico, o curso certo, o professor certo, o brush certo, já adianto que isso não existe, o certo mesmo é dedicação, esforço e tempo! As ferramentas certas só auxiliam levemente neste processo. Mas isto é assunto para outra conversa.
Mais uma vez, muito obrigado por acompanharem! Este tipo de discussão fica muito mais interessante quando mais pessoas se envolvem, então por favor, deem suas opiniões, criticas e comentários! E por último, se gostaram deste post, por favor compartilhem, quero atingir o maior número de pessoas possível com estas mensagens! Se ainda não curtiu a página do projeto no facebook, dê um pulo lá clicando aqui!